domingo, 26 de fevereiro de 2012

Lixo Extraodinário!!!

 "LIXO" e "ARTE" SÃO SINÔNIMOS??

É muito difícil escrever sobre um retrato tão impactante. As emoções que ele nos causa são as mais profundas dentro de um poço de sentimentos soltos num submundo que criamos dentro de nós. Vive-se para morrer. A sobrevivência é a dolorosa passagem de um estado físico vivo à um estado de putrefação, onde nossa alma é liberta através dos gazes que nós, lixos, exalamos à todo momento. O lixo que criamos é a extensão morta de nossas vidas. É o melhor retrato do que realmente somos e exatamente para onde vamos.

Mas o extraordinário é que em um lugar sem vida, só com almas dentro de corpos inanimados buscando uma sobrevida nesse mundo. Os que lá habitam já não ouvem, não cheiram, não sentem mais nada. Estar alí é uma exclusão voluntária de um Estado que já lhes excluiram. Este cemitério de vida morta é o Aterro do Jardim Gramacho, o maior aterro do mundo em quantidade de lixo. Os urubus à procura de alimento, dividem o espaço com esses seres invisíveis que lutam por qualquer objeto que traga um pouco de humanidade e reflexão para sentir-se vivo. Percebemos que alí há mais vida do que nos palácios governamentais, casarões imperiais expalhados pelo mundo. No Gramacho a luta é diária, lutando com garra e querer viver é a arte dos catadores de material reciclável. Mas a arte mudaria o modo de entender onde essa batalha interminável, finalmente, acabará.

Vik Muniz é o maior artista plástico brasileiro da atualidade e um dos mais influentes no mundo. E o que essa luta da sobrevivência no Gramacho teria a ver com arte moderna? Absolutamente nada, até Vik vislumbrar um novo projeto. A idéia vai além de transformar material reciclável em arte. É transformar catadores em pessoas visíveis, seres humanos reais, transformadores da própria vida e artistas, que seja, por pelo menos um dia. Vik tem uma biografia invejável e pouco comum no mundo elitizado das artes. Viveu uma infância pobre, sem luxos, sem conhecer museus. Hoje, ao lado de Jean-Michel Basquiat, são os maiores expoentes de que a arte é universal: todos fazem, todos vêem, todos entendem. Você também pode. Os catadores do aterro também podem e fizeram. Aprecie sem moderação.
  
A partir da premissa, estamos diante de alguns personagens surreais, escolhidos e conduzidos por Vik e seu assistente Fábio à uma experiência maravilhosa, transformando o dia a dia dos que não viam futuro, não viam vida naquele lugar. A transformação é gradual, passo a passo, selecionada, tirando escombros de sacos cheio de restos, cavando até encontrar um luz no fim do túnel, ao subir no andaime e ver que cada um deles deixou de ser apenas um ponto no meio daquela cidade do lixo e passou a ser uma obra de arte. Vik é mostrado de forma imaculada, com muita inteligência e sabedoria, entendendo cada passo que dava, com cautela e buscando apenas o benefício da Associação dos Catadores. E não deve ser diferente disso. Vik é um orgulho nacional.